O IMPACTO DAS OBRIGAÇÕES ESG NAS ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS

18 de julho de 2025

Nos últimos tempos, os princípios ESG (Ambiental, Social e de Governança) passaram a ocupar lugar estratégico nas decisões corporativas, impulsionados pela atuação de investidores, órgãos reguladores e consumidores mais atentos às responsabilidades das empresas. Esse movimento, em sua essência, contribui para elevar o grau de responsabilidade empresarial quanto aos efeitos que provocam no meio ambiente, nas relações sociais e nos processos internos de governança.

No entanto, ao mesmo tempo em que busca induzir práticas mais éticas e sustentáveis, a regulação ESG começa a apresentar uma faceta menos discutida: o excesso de normas e exigências de conformidade que, paradoxalmente, podem comprometer os próprios objetivos que se propõem a alcançar.

A multiplicidade de diretrizes, padrões e obrigações formais de reporte, muitas vezes sobrepostas e desarticuladas entre si, tem tornado a adaptação empresarial um processo custoso e tecnicamente complexo. Na União Europeia, por exemplo, o conjunto normativo relacionado à sustentabilidade corporativa demanda relatórios detalhados, altamente técnicos e que exigem investimentos significativos em pessoal qualificado, tecnologia da informação e assessorias especializadas. Além disso, exigências complementares em temas como direitos humanos, emissões de carbono e classificação de atividades econômicas sustentáveis reforçam o grau de complexidade.

Para empresas de menor porte, esse ambiente se revela ainda mais exigente. Embora muitas delas não estejam diretamente sujeitas às obrigações legais, acabam por ser indiretamente pressionadas por parceiros comerciais maiores que precisam demonstrar a aderência de toda a cadeia de fornecimento às exigências normativas. O resultado é um aumento considerável nos custos operacionais, sem que, necessariamente, se produza um avanço concreto nas práticas de sustentabilidade.

Essa lógica excessivamente formalista pode gerar distorções na própria finalidade do ESG. Ao priorizarem o cumprimento documental das normas, algumas organizações passam a tratar o tema como um exercício de apresentação, não como uma transformação genuína dos seus modelos de atuação. Isso favorece condutas superficiais, como o greenwashing, em que a imagem de responsabilidade social e ambiental não corresponde a práticas efetivas.

Diante desse contexto, é indispensável repensar a qualidade regulatória e sua aplicabilidade. Mais do que ampliar a quantidade de normas, é preciso assegurar que elas sejam coerentes, proporcionais à realidade de cada setor e capazes de dialogar com a diversidade empresarial. Medidas como a simplificação de relatórios, a valorização de abordagens qualitativas e a diferenciação de exigências conforme o porte das empresas são caminhos possíveis para que o ESG seja efetivamente integrado às estratégias corporativas.

A transformação sustentável exige regras, sim, mas também exige inteligência regulatória, clareza de propósito e disposição para adaptar exigências à realidade. Quando a conformidade se sobrepõe ao conteúdo, corre-se o risco de tornar o ESG um fim em si mesmo, esvaziando sua potência transformadora. O desafio está, portanto, em formular normas que sirvam como impulso para a mudança, e não como barreiras à sua realização.