A FALTA DE MATURIDADE EM SEGURANÇA DIGITAL AINDA EXPÕE EMPRESAS A VULNERABILIDADES

24 de junho de 2025

A digitalização das rotinas empresariais tem ampliado não apenas as possibilidades de crescimento e inovação, mas também os pontos de vulnerabilidade das organizações brasileiras. Um levantamento realizado com quase 250 empresas de diferentes setores revelou que a maioria dos gestores reconhece o avanço das ameaças virtuais nos últimos anos. No entanto, esse reconhecimento ainda não se converte, de forma significativa, em medidas estruturadas de proteção.

Mais de três quartos dos executivos ouvidos afirmam que suas empresas estão hoje mais expostas a ataques cibernéticos do que no passado. Para dois terços deles, os riscos relacionados à segurança digital já ocupam lugar de destaque nas principais preocupações institucionais. Ainda assim, muitas organizações operam com fragilidades evidentes, especialmente quando se observa a ausência de planos testados de resposta a incidentes, a subutilização de ferramentas como o seguro cibernético e a falta de engajamento efetivo das lideranças com o tema.

Os dados mostram que ataques de phishing e ransomware estão entre as ameaças mais temidas. E com razão: além de causarem prejuízos financeiros, tais ataques comprometem dados estratégicos e minam a confiança de clientes e parceiros. Apesar disso, apenas um quarto das empresas consultadas conta com cobertura securitária específica para riscos digitais, e cerca de 33% sequer dispõe de um plano formal para resposta a incidentes.

Outro ponto que chama atenção é a baixa taxa de notificação dos eventos ocorridos. Quase 60% das empresas que passaram por algum tipo de incidente não informaram autoridades como a ANPD ou o Banco Central. Essa omissão, além de contrariar normas como a Resolução CD/ANPD nº 15/2024, representa um risco jurídico e reputacional significativo. Ainda é comum a falsa crença de que silenciar é proteger. Mas, na prática, a falta de transparência tende a agravar as consequências de um incidente.

Apesar de 83% das empresas declararem promover treinamentos sobre segurança, apenas uma em cada cinco avalia essas ações como realmente eficazes. A qualidade da capacitação, portanto, precisa ser repensada. Estratégias mais dinâmicas e alinhadas ao cotidiano dos colaboradores, como simulações e conteúdos interativos, costumam ter melhor adesão e resultados mais consistentes.

O que diferencia as empresas mais preparadas, segundo a análise dos dados, é o papel da alta gestão. Quando a liderança se envolve diretamente, os investimentos são mais bem direcionados, os riscos são mapeados com maior precisão e a resposta a crises se dá de forma mais coordenada. Por isso, a segurança cibernética precisa deixar de ser vista como um problema técnico e passar a ser entendida como uma responsabilidade estratégica. O primeiro passo é a criação de estruturas de governança claras, com definição de papéis, responsabilidades e metas.

Cinco medidas merecem atenção especial de qualquer empresa que deseje amadurecer suas práticas de proteção digital:

  1. Mapear vulnerabilidades de forma contínua, evitando a falsa sensação de segurança com diagnósticos esporádicos.
  2. Manter planos de resposta atualizados e testados periodicamente, com exercícios simulados que envolvam todos os setores.
  3. Adotar estruturas normativas reconhecidas, como a ISO/IEC 27001 e o NIST CSF 2.0, para orientar as políticas de segurança.
  4. Investir em capacitação segmentada e contínua, com formatos que gerem envolvimento real dos colaboradores.
  5. Considerar o seguro cibernético como elemento complementar, não como substituto da prevenção, mas como parte de uma gestão mais equilibrada de riscos.

A transformação digital precisa caminhar junto com o amadurecimento institucional em matéria de segurança. Essa evolução exige não apenas ferramentas tecnológicas, mas também mudança de cultura. Proteger a informação é proteger o próprio negócio, e isso exige atitude, estratégia e comprometimento.