É comum que governança e compliance sejam tratados como conceitos distintos, e de fato são, mas é na sua integração que se encontra a base sólida para a atuação responsável das empresas. A governança estabelece diretrizes para o funcionamento equilibrado e ético da organização. Já o compliance, muitas vezes interpretado de forma equivocada como uma formalidade burocrática, é parte integrante dessa engrenagem, e precisa ocupar um espaço estratégico na gestão corporativa.
A complexidade regulatória atual exige mais do que simples conformidade documental. Iniciativas de combate à lavagem de dinheiro, legislações voltadas à integridade e à prevenção da corrupção, normas sobre sanções internacionais e expectativas regulatórias relacionadas ao tema ESG ampliaram significativamente as obrigações empresariais. Esse quadro demanda estruturas internas de controle que não apenas respondam às exigências legais, mas que estejam alinhadas à cultura organizacional.
As formações internas exercem papel fundamental nesse processo. Elas não são apenas mecanismos de transmissão de conhecimento, mas instrumentos de transformação de mentalidade. A experiência mostra que, por mais robustos que sejam os controles internos, não é possível eliminar completamente o risco de falhas. Isso, no entanto, não representa necessariamente uma falha do sistema, mas sim um lembrete da natureza humana que atravessa qualquer ambiente corporativo.
Em empresas mais maduras em termos de compliance, essa consciência já está incorporada ao cotidiano. Nesses ambientes, o diálogo constante com as equipes, o monitoramento de riscos operacionais e a condução de avaliações periódicas fazem parte da rotina. O foco não é apenas punir desvios, mas construir uma cultura em que o comportamento ético seja natural e incentivado.
Outro ponto que merece atenção é a efetividade dos canais de denúncia. Ainda que possam gerar registros considerados irrelevantes, sua existência demonstra que os colaboradores se sentem ouvidos. O simples fato de a empresa receber relatos, analisá-los com seriedade e promover o retorno adequado fortalece a confiança interna e mostra que há espaço para a transparência. O aumento do uso desses canais não deve ser interpretado como sinal de deterioração do ambiente corporativo, mas sim como reflexo de uma estrutura que acolhe, escuta e busca melhorar.
Compliance, portanto, não deve ser visto como obstáculo, mas como uma ponte para uma gestão mais segura, transparente e responsável. Trata-se de um investimento contínuo na integridade da organização, no compromisso com a lei e, principalmente, no respeito pelas pessoas que nela atuam.